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Vozes
Dos óculos, a lente

Por ela, vorazmente

Luz dentro da retina

Você não imagina...



Minha intensa dor

Andava com torpor

Passos no lajeado

E o peito apertado.



Sangrava bem no fundo

Alfa do fim do mundo

Gritava ao vento quente:

"Dê paz à minha mente!"



No cimento gelado

Marca do meu calçado

Lembro de ter pisado

Quando foi rebocado.



Torrado pelo sol

Escuto um rouxinol

Que leva à hipnose

E faz que eu ouça vozes.



Eu ouço vozes

Que me dizem: "vai"

Eu ouço vozes

Que de dentro sai.



Eu vi um velho bruxo

Sentado na calçada

Que levantou e disse

O conto de Alice.



Outro lado, espelho

Buraco do coelho

Rosas que eram brancas

Pintadas de vermelho.



Rainha tão maluca

Faz o que dá na cuca

As cartas do baralho

Pra casa um atalho.



O homem falou pra mim

Seguir o coelho branco

Corra até o fim

Nos matos e barrancos.



Torrado pelo sol

Escuto um rouxinol

Que leva à hipnose

E faz que eu ouça vozes.



Eu ouço vozes

Que me dizem: "Vai"

Eu ouço vozes

Que de dentro sai.



Marcelo Garbine
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